30.5.07

o tempo. maldição que corrói a carne e aniquila sentimentos. desmagnetiza o que sempre foi mistério. evapora de mim qualquer possibilidade. como se fosse tudo por ser. banal e superficial. deixa rastros rasgados na superfície. amassa a cara na vidraça. desbarateia e tem olheiras. uma consequência. mera reação dos fatos. apaga a vista da retina. multiplica a amplidão. vagos tremeares de acaso. corrompe os limiares. tudo vai ficando igual a tudo. rostos e rostos perdidos entre tantos rostos. aos poucos vão se apagando. vira uma massa única. transmuta-nos em cascos. é, o tempo. senhor da razão que apazigua e amortiza as dores da vida. enche de sonhos o horizonte. tempo do tempo de um novo caminho. brilho no olhar.

20.5.07

nunca fui boa com escolhas. sempre fui indecisa. parece que sempre escolho a alternativa pior. que o que eu não elegi como preferido passa a ser o mais atraente. quando criança, fazia minha mãe ler todos os sabores de sorvete, mas sempre escolhia o de chocolate. até hoje eu leio todos, experimento vários e decido por chocolate e menta com chocolate. mas antes eu fico com cara de aflita, olhando as decisões dos outros. aplico essa mesma dinâmica pra tudo na vida. eu também sou clássica nas escolhas. poderia levar pra casa uma casquinha de piñacolada, ou aquele com chiclete azul. mas eu sempre fico no tradicional chocolate. pura conveniência minha. e a casquinha, também não gosto de experimentos, gosto só daquela básico cone, sem exagero na textura e consistência. o medo por descobrir algo novo e gostar muito, ou seguir a opção errada e ficar muito arrependida? acho que é um pouco de tudo e da minha inútil crença de que eu sou uma pessoa muito calma nos momentos decisivos. o que é só pra tentar me enganar, porque também sei que sou frenética e que a definição da cor da meia já me faz ter calafrios algumas manhãs. fora a instabilidade e o exagero. ou amo ou odeio. ou gosto ou não quero ver na frente. e vivo sempre com aquela rusguinha na cabeça do que poderia ser sem nunca ter sido nada.

13.5.07

o frio entrou pela janela e escancarou o momento tão meu que adentrava. foi de sopetão e eu entendi tudo. contei os minutinhos pro final. encontrar-se nos meados é tão forte que transforma qualquer viga em artéria pulsante. é o limiar do passo em falso. o nó na lã que estou cosendo. não pude nem ao menos desfrutar. uma palavra de despedida. um aceno. não dei nenhum direito. o momento é meu e só apenas. tenho o prazer de desfilar sozinha nesse palco. anos e anos esperei por isso. tão estúpida que ainda me preocupo em ser sútil. tão mulher e forte e frágil. um corridinho e um capacho. dou voltas e me embolo no meu espaço. sem limites, sem prolongas. um passo e a maré toda. foi a fogueira com lua. e muito vinho e solidão. e hoje, de sopetão, eu me encontrei. inteira, plena, coesa.

9.5.07

dor que aperta o peito. agonia forte que eu bem sei sem saber muito. não há nada que eu possa fazer. está totalmente fora do alcance de minhas mãos. tento mudar mas não vislumbro nenhuma outra alternativa. aos poucos me consome a energia. machuca, me derruba. tento seguir a vida como se você não existisse. vã desilusão. está tão dentro de mim que é quase eu. passa o tempo e meu amor apenas ameniza. mas continua todo aqui procurando se sustentar nas migalhas de você que ainda pairam nas esquinas. como se nos amarmos fosse coisa simples. como se o amor fosse possível. e minha cabeça caraminhola de um tudo pra sermos únicos. no entanto, só te tenho na retina. seu cheiro doce desce a garganta. feitiço de lobisomem que me atrai.

4.5.07

hoje acordei mais só do que qualquer outro dia. tão só que até estanca e orienta e me dá forças. solidão acompanhada, entulhada, enlatada. solidão de ser, apenas. sozinha, pequena, amorfa. eu estou só e isso já não me espanta. eu sou só, sempre.

áspero e íntrínseco. exuberante e claro. uma a uma as palavras que trituram. ainda escuto os tintilhares. dente no dente. abalo císmico. beirando a lua, dá voltas na minha solidão. é mais difícil que respirar. ilusões à meia noite. abismo de idéias pontuadas. dói, aperta e coça. profundo em mim, não há espaços que lhe sobrem. escorro o que não é denso. vertentes de uma madrugada. ecoa em mim o grito que não dei. a palavra estancada no estômago. frases inteiras incruadas no vazio. colho as lágrimas da chuva toda. foi-se a tempestade, ventania. nada mais é suportável assim. descobrir causa danos irreversíveis. a bestialidade é a arma da felicidade.

foi o tempo cheio. e foi a vida toda. sem perceber, os dias escorriam por seus dedos. não se deu conta. olhou no espelho e viu suas carnes flácidas. as rugas apontando. era tudo novo e não tinha visto. a mocidade que ficou além. outrora amou. outrora foi feliz. depois, tudo virou igual a tudo. os dias eram sempre os mesmo. acordar, trocar, lavar, comer, sair, arrumar, comer, dormir. sozinha, cara a cara com o espelho. deu-se conta do que perdeu. deu-se conta do que se foi. mas agora, plumas ao vento. argila seca, mal aprumada. no seu rosto, desilusão. no seu passo, só descompasso.

úmida e latejante. inebriada e escarlate. transcendendo qualquer força nuclear. resisto e insisto. mais forte que qualquer razão de ser. o meu casco duro. três tapas na cara e só uma dor. três socos no estômago e me mantenho inteira. coesa. livre, soberana. ilhada e atada. pedra dura tanto bate que fura. quebra as partes. lasca a carne. estilhaçada, abrupta. vagueio desnorteada. não há motivo que reflita. regorgito, anuncio. sou mais uma, apenas.

"Há mais cousas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia" - 2

conflito de idéias. correlação. há mais de mais de mim. nem eu mesma reconheço. mudou-se o nó que atracava o mundo. cortou-se o fio que segurava a trama. tão forte que machuca. comprime em mim o que há de mim. tão denso que sufoca. amassa, aperta e geme. tão grande que não cabe aqui. nem emprestando um pouco. intensa luz que me acolhe. gira com tamanha desenvoltura que apenas observo. não há mais sustento que petrifique. deu-se o início e foi fulminante. talvez quando tudo era claro escuro era mais fácil. tudo subliminarmente subentendido. nada definitivamente compreendido. agora sou eu e mais o mundo. sou eu encarando a existência. sozinha, aflita, incontida. não há como recolher as migalhas que me sobram. todas extremamente valiosas. não há contento em existir. pura, obstante, difusa, dispersa. sigo o caminho que não tem mais retorno. foi-se o tempo ardendo em labaredas. foi-se o coração tranquilo. agora que tudo foi dito, incontido, ficou mais difícil existir-te sem ser. incurável dor de uma saudade. oriunda.

é não adianta. chega o dia que ando e ponto. tudo conspira. o fato é que não consigo dar fim a nada. até me esmero e boto empenho. mas sempre, sempre me enrosco e vou arrastando um fiapinho da meada. quando dou por conta já emaranhou tudo. fica aquele gosto de amargo na garganta. tudo não degludido. e já não dou conta do que sou ou fui ou era. só porque não sei dar fim aos meios. do mesmo jeito que saio da festa sem dar tchau. confunde tudo e vira um acaso. aquela sensação de tempo perdido. fazendo algo que não quero mas não sei dizer direito. ou que quero ainda que sem querer. parecido muito com dançar a música que estiver tocando. talvez porque seja mais fácil e prático. incluindo aí um certo ostracismo que acompanha a maré. como se apenas eu estivesse parada na pista enquanto todos arrastam a marcha rotineira. tão banal que passa como corriqueiro. fico assim, com a cara colada na vidraça. olhando a chuva que ainda não cai do lado de fora. vasculhando os espaços que me somam. meros compassos de solidão.

2.5.07

ahã ahã...
pára tudo!!!
eu tenho certeza

QUERO DIVERSIFICAR A MASSA!

1.5.07

para menina flor

o seu olhar melhora o meu. porque o tempo passa e você vai cada vez sabendo mais e me ensinando tudo. porque com seu abraço eu percorro o mundo em alguns segundos. e porque a gente se diverte e dá risada e rola na grama e anda na terra. e porque eu te dou qualquer coisinha e você acha o máximo. e a gente faz de tudo uma folia. e eu até sinto medo no bondinho, mas finjo que sou durona só pra você se divertir. porque eu empurro o balanço e você adora ficar bem alto. e porque seus olhinhos são duas jabuticabas brilhantes que querem saber o que de tudo. e você chega e eu páro o que tô fazendo só pra ficar mais um cadinho contigo. e porque você se enrola toda nos fios do cachecol mas eu nem consigo dar bronca quando vejo essa cara de minhoca. porque com você cada minuto faz sentido e jamais é tempo perdido. é porque você é o meu maior amor no mundo.