10.8.07

tão engraçado, não é? eu e você aqui, sentados, bebendo. um consolando o outro. um amparando e escorando o outro. tão engraçado, não é? como a gente conseguiu dar a virada pra tudo? acho que foi muito mais seu esforço que meu. teve aquela vez que você veio aqui em casa. eu ainda estremecia nos limiares. armei todo o contexto, mas na hora deu uma guinada e virou um devaneio. mandei um poema até. lembro de você me perguntando se preferia a resposta em prosa ou verso. sempre preferi palavras claras ditas na minha cara. e foi assim, terno, mas com muita firmeza, que abriu o peito e me contou do jardim todo... ficamos um pouco ali, caras amarradas, olhares vagos. e daí foi um lave-lambe do caramba. eu compreendi tudo. quer dizer, compreendi sem querer entender. afinal, cara e coroa tão na mesma moeda, não é? mas o que tem que ser é o que é e não discutimos. ficou só um pouco de tudo entalado. frases inteiras perdidas no vácuo. teve conversa longa e noites alucinadas. pastel com caldo de cana. varanda e café da manhã. tudo sem pretensão. acontecendo no breve espaço de uma intensidade. enfim, só sei que hoje a gente ri e chora juntos. que estamos aqui sentado, lado a lado, cada um com a sua dor. ainda me chama do meu apelido e ainda te acho cheiroso. e continuamos bobos, duas crianças crescidas encarando a infinidade de existir.

2 Comments:

Anônimo said...

Que lindo, nêga, o reconhecimento de que precisamos de alguém. E a gente carece de uma pessoa às vezes mais de suas palavras que de suas atitudes. Até porque a palavra prenuncia todo o restante. Eu já tive experiência igual, já fui, e vi que eu estava denominando a minha felicidade de forma errônea, lá fora, e dei uma volta por baixo, pedi arrego, não por necessidade de uma casa, eu estava bem instalado, acompanhado, mas só. E eu preferi os meus encostos de antes, meios arrimos, que caíram pro lado, quando estava vendo o mundo de cabeça para baixo.
É bom a gente ouvir de outro, que não existe palavra dada e fato consumado. Tudo isso pode acontecer, mas haverá uma ocasião que tudo isso perde o sentido. É quando você perde o seu.

Um beijo
Naeno

c said...

Adorei!