27.3.08

tem momentos que são inevitáveis. sentimentos que são imutáveis. pessoas que chegam e tomam um espaço gigante sem nem pedir licença. outras que estiveram sempre por perto e não significam nada. a verdade é que não escolhemos nada. as coisas acontecem com uma vontade irremediável. a vida muitas vezes nos atropela sem dar alternativas. apenas finjo que me navego, mas "quem me navega é o mar".

25.3.08

camila:

o tempo não pára, nunca. respira, alucina. vibra. cheira. só não perde jamais a paciência!





é assim que a gente fica quando a gente se tromba nessa vida...
mineirada é foda, viu!

18.3.08

Indo um pouco mais além, não que o papo tenha sido assim, mas bem que poderia...

Clarice Lispector
Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou a minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. "O amar os outros" é tão vasto que inclui até o perdão para mim mesma com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto.

Alice Ruiz
que importa o sentido
se tudo vibra?

Clarice Lispector
Sempre me restará amar. Escrever é alguma coisa extremamente forte mas que pode me trair e me abandonar: posso um dia sentir que já escrevi o que é meu lote neste mundo e que eu devo aprender também a parar. Em escrever eu não tenho nenhuma garantia.
Ao passo que amar eu posso até a hora de morrer. Amar não acaba. É como se o mundo estivesse a minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera.

Alice Ruiz
já estou daquele jeito
que não tem mais concerto
ou levo você pra cama
ou desperto

Camiles
Não sou de metades...
Sou plena, cheia, inteira, redonda...
Sou elevada ao cubo!

Alice Ruiz
já não temo os fantasmas
invoco a todos
que venham em bando
povoar meus dias
atormentar minhas noites

entre tantos
loucos e livres
existe um
que é doce
e que me falta

Clarice Lispector
O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

Camiles
essa mania de querer
ainda vai me deixa louca
quero tudo, sua pele,
seu beijo, sua boca.

pode parecer ridículo, até um tanto pretensioso, mas foi um sonho louco. não sei se porque as duas são mulheres que eu muito admiro ou se ultimamente eu ando lendo muitas coisas delas. sonhei que fiz uma mega balada acompanhada por alice ruiz e clarice lispector. inusitado e muito engraçado. clarice era a mais mal humorada, reclamava de tudo um pouco. sempre com um copo de gin tônica na mão e um cigarrinho entre os dedos. alice era pura fantasia. andava no embalo da bebida, da música da dança. eu era a nossa adrenalina, escolhia os lugares, delimitava os espaços. não deixava a noite ter fim. é impossível lembrar uma frase inteira que foi dita nessa longa madrugada. mas tudo era denso e transcendia em mil vertentes femininas. questionamentos sobre a alma masculina. alice os defendia a todo momento. acho que é porque alice foi casada com leminski, o que até me dá uma certa admiração e um tantinho de ciúmes. eu também queria ter sido amada por leminski. ou simplesmente queria ter convivido com esse grande amor. eu e clarice compartilhávamos dos mesmos sentimentos. uma coisa meio sado, meio maso. gostamos de tratar mal, desdenhar. inversas e ambíguas. admitimos que não vivemos sem, mas que a melhor parte é gritar pro mundo que não dependemos deles pra nada. e clarice me confidencia que já fez de tudo por um amor. alice é apaixonada e diz que só o entrelaçar das pernas vale qualquer mágoa que possa vir um dia. e foram mais tantas discussões e convívios que eu até acordei cansada. procurei-as quando acordei, de tão real que foi a experiência. tentei entender toda essa noite catarse. de todas as explicações que eu imaginei, a que mais me convenceu é que eu era todas. eu em cada fase e força evolutiva. eu apaixonada, eu amarga, eu louca. era eu tentando me defender e me acusar dos meus próprios questionamentos. era eu me assumindo, me encontrando e me perdendo. deliciosa experiência de auto-conhecimento.

Boteco

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio
ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda,
nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de cento e cinqüenta
anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de cento
e cinqüenta anos, mas tudo bem).

No bar ruim que ando freqüentando ultimamente o proletariado atende por
Betão - é o garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas, acreditando
resolver aí quinhentos anos de história.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar "amigos" do
garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam
para falarmos de literatura.

- Ô Betão, traz mais uma pra a gente - eu digo, com os cotovelos apoiados
na mesa bamba de lata, e me sinto parte dessa coisa linda que é o Brasil.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte dessa coisa
linda que é o Brasil, por isso vamos a bares ruins, que têm mais a cara do
Brasil que os bares bons, onde se serve petit gâteau e não tem frango à
passarinho ou carne-de-sol com macaxeira, que são os pratos tradicionais
da nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, meio de esquerda,
quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de
petit gâteau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil
e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, gostamos do Brasil, mas muito
bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim.
Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo
americano e, se tiver porção de carne-de-sol, uma lágrima imediatamente
desponta em nossos olhos, meio de canto, meio escondida. Quando um de nós,
meio intelectual, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum
outro meio intelectual, meio de esquerda, freqüenta, não nos contemos:
ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e
decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim.

O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo
freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e
universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha
como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e, um belo
dia, a gente chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio
intelectual nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas,
cineastas e, principalmente, universitárias mais ou menos gostosas. Aí a
gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de
meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos
gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio
intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar
antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente,
ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que
estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam
sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres
que chegam depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente
gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a
Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.

Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos:
os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem
qual é a nossa, mantêm o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do
cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de
bacalhau no cardápio e aumentam cinqüenta por cento o preço de tudo. (Eles
sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida
e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato). Os donos
que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de
lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som
estéreo tocando reggae. Aí eles se dão mal, porque a gente odeia isso, a
gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão
Brasil, tão raiz.

Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda em nosso
país. A cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a
gente gosta, os pobres estão todos de chinelos Rider e a Vejinha sempre
alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a
difundir o petit gâteau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos
meio intelectuais, meio de esquerda que, como eu, por questões
ideológicas, preferem frango à passarinho e carne-de-sol com macaxeira
(que é a mesma coisa que mandioca, mas é como se diz lá no Nordeste, e
nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o Nordeste é muito
mais autêntico que o Sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é bem
mais assim Câmara Cascudo, saca?.

- Ô Betão, vê uma cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

* João Werner. Texto integrante do volume As Cem Melhores Crônicas Brasileiras,
organizado por Joaquim Ferreira dos Santos.

Bar ruim é lindo, bicho
* Antonio Prata

17.3.08

é tanta abobrinha, ladainha e besteira que prefiro colocar o fone e ligar num celular que não toca mp3 e nem rádio. só pra fingir que tô em outro mundo estando com meus pés fincados no chão. cansei desse papo todo. mistura de delírio e loucura. porque se fosse algo, até valeria. assim mesmo, sem pretensão alguma... planos e manias. cerveja descendo pela garganta, narina, latrina. alguém diz a última de amy. eu digo que muito me impressiona aquele cd que ela fez todo depois de um fora. juro, eu queria ser amy winehouse. queria muito. só pra tocar pra fuder em rede nacional, linha internacional. pra ser todas e muitas e ser eu mesma. pra me dar vazão e contentamento. latitude longitudinal. arrepio, calafrio. seu sorriso e o sol amanhecendo. branca como a neve que insistia em cair na noite paulistana. branca como tudo que ainda nos contorna. cama imensa, cheirosa e sozinha. quintaneando pelos cantos. só pra ser vadia. só pra ter sua língua. só pra me ser, apenas.

domingo, casa de geisa, 18h25. tremenda ressaca e enorme bebedeira. estou tentando abrir uma garrafa de cerveja. aproxima-se um rapaz bastante estiloso que eu já havia percebido na festa.

- nossa, você parece tanto com uma amiga minha...

eu continuo apenas olhando pro rapaz.

- ela chama camila.

- eu me chamo camila.

- é, ela chama camila andrietta.

- uai, eu sou camila andrietta, você é meu amigo?

- ah, eu sou o rodrigo, lembra? de recife, vim pra cá ano passado...

- ah, nossa, mas você tá tão diferente, né????

14.3.08

ansiedade. eu pintei as unhas de vermelho, só porque eu sei que é assim que você gosta. escolhi as roupas. mal dormi. quase não trabalhei. senti o seu cheiro nas palavras cortadas que trocamos. cada um correndo prum canto. pensando no que vou falar. nas coisas que quero te contar. só pra quando eu ver seus olhos esquecer tudo de novo e perder o juízo. tão lindo e tão gostoso. percorrer seu corpo com os dedos, com a língua, com saliva. nossos corpos entrelaçados em qualquer espaço do planeta. dengo cheiro, alucina. derreter, secar, espalhar. até que de nós dois não reste nada além de espasmo, gozo e amor.

e me deu uma saudade de tudo. das longas risadas. dos abraços apertados. de tudo ao mesmo tempo agora. essa modernidade de fotos no cyber espaço. os amigos tão longe e tão perto, mas tão longe. engulo as lágrimas. contemplo o tempo. avoa meu canto, pássaro. reflexo de mim em mim. no fundo pura solidão que não tem mais fim. eu vim, vi e sobrevivi. com tudo e mais um pouco. feridas cristalizadas. olhares gelados. espasmos. relembrei um tanto. desvencilhei. as rosas continuam amarelas, mesmo em noite de temporal. é claro mesmo na escuridão. noite estrelada, escarlate. anilina, ampicilina, anfetamina. girando assim. foi-se o tempo que eram histórias. perspicácia e angústia. nada mais é confortável. dói tanto que até goza. viver, as vezes, é um lapso alucinante que eu adoro.

Paciência

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára...

Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...

Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...

O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...

Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...

Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...

A vida não pára!...
A vida é tão rara!...

* Lenine e Dudu Falcão

acabei de vender minha alma por mais 22 dias...
esperei ao máximo pra efetuar o negócio, mas foi inevitável.
agora é respirar e me entregar.
22 dias, 3 semanas.
vamos que vamos, né não?

10.3.08

confusão. transformação. miscigenação. tão perdida que não aqui. pedaços espalhados por todas as partes. em cada canto um atropelo. caixas em minas, são paulo e rio de janeiro. nenhuma certeza. destreza. alguns momentos brotam borboletas em meu estômago. outros são de pura erupção. vulcão assim. vazio. acaso. panela de pressão. como se não bastasse essa saudade imensa que prolifera em meu peito. com a casa vazia e a cama king fica mais difícil ainda. tem horas que só consigo te querer. nada tem muita graça a não ser imaginar seus olhos olhando pra mim. como no dia que tocou a campainha e grudou o rosto no olho mágico. tão lindo e tão alucinado. pedaço de mim.

4.3.08

O Analfabeto Político

O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.

* Berthold Brecht